quarta-feira, 11 de março de 2009

Falar caro

Sempre achei piada às pessoas que tentam falar caro.
Principalmente àquelas para quem olhamos e vemos logo (ou sabemos) que nunca pegaram num livro na vida, que só vêm as novelas da TVI e a quem, para além da Maria e da TV 7 Dias, a única leitura que lhes passa pelas mãos é o jornal gratuito lido à pressa no autocarro mas que, em situações que consideram formais, tentam mostrar que até sabem falar bem e conhecem umas quantas palavras caras (ou que elas acham que são caras).
Então vai de utilizá-las todas ao desbarato (que esta gente sempre que pode fazer uso de alguma coisa cara, abusa...), quantas mais, melhor. De preferência todas na mesma conversa que é para mostrarem que são pessoas cultas e educadas (a noção de cultura e educação em Portugal anda pelas ruas da amargura).

E depois temos pérolas como a conversa telefónica da senhora a quem ligaram a impingir um serviço qualquer e que, por estar num local público, não podia mandar o senhor à fava:

- Não, não, não estou interessada.
(...)
- Não, já não habito aí. [reparem que ela já não habita, será que mora?]
(...)
- Não! Isso é a morada onde vivia com o meu ex-esposo. [mas alguém diz "ex-esposo"????? Nem "esposo", quanto mais "ex-esposo". Eu diria que o divórcio foi de comum acordo, caso contrário acredito que o sentido "f**** da p*** do meu ex-marido" se transformaria num mas caro "indivíduo com quem contraí matrimónio mas que, por infortúnio da vida e devido às suas acções de ordem ilícita com espécimes do sexo feminino não se desenrolou da forma por nós pretendida aquando da boda"]
(...)
- Não, não... mas isso pode ainda ser do interesse dele.
(...)
- Mas deve ter aí o contacto dele, não tem? [número??? qual número? telemóvel? Isso é para gentinha... para mim é sempre "o contacto" que é muito mais select]
(...)
- Não tem? Quer que lhe forneça o contacto dele? [forneça??? mas ela é o quê? uma fornecedora de contactos? Mas aqui, há outra coisa para a qual chamo a atenção e que torna este "falar caro" mais ridículo: a incapacidade crónica para a utilização correcta dos pronomes pessoais. Se ela realmente soubesse falar teria dito "quer que lho forneça?", mas não! Isso de substituir nomes por pronomes é extremamente difícil. Aposto que é das diz coisas do género de "eu vi ele ontem no cinema" ou "Tu avisa-lhe que tem a mala aberta"].


Nota: um dia destes faço um post dedicado ao "falar caro" da minha querida avó e às suas conversas com os médicos ou vizinhos... São hilariantes.

5 comentários:

Vera Dias António disse...

O best é usarem a expressão "à priori", porque parece bem, a torto e a direito. Eu já ouvi "à priori ele já está bom, o médico disse que..." a falar de um filho. Ou "à priori amanhã saio cedo". Porque se sair tarde já seria "à posteriori", não?!!!
O meu esposo até se arranha com esta moda que, à priori, é bem parva. lol

Unknown disse...

E uma entrevista de emprego que tive que o entrevistador não parava de dizer "stricto sensu", "lato sensu", e eu a querer-me rir? O latim realmente dá outro ar :D

gralha disse...

Minha querida, tu não podias mesmo trabalhar com o público como eu... Logo vias a quantidade de maluquinhos e eruditos de trazer por casa que se apanha!

Susana Lé disse...

O que já me ri com este teu post! lol
Estou desejosa de ler o da tua querida avó ;)

Anónimo disse...

A avó tb é minha...quero ler isso!
Mas há uma que eu adoro: "às paginas tantas"!
Fica sempre bem em qlq lado...e, às paginas tantas, até já faz parte do "falar caro" do cidadão comum! (eh pá, aqui tb fica bem...iiihhhh vou usar todos os dias e, às paginas tantas, começa a sair sem eu ter de pensar onde encaixa melhor, começa sair com naturalidade!!! fantástico, que ideia tão inteligente que eu tive, às paginas tantas, sou um génio!)